Tarcisio Alves Ponceano Nunes.
11/02/2025
Nesta 8ª EDIÇÃO, Tarcisio Alves Ponceano Nunes, 2º Tabelião de Notas e de Protesto de Letras e Títulos da Comarca de Matão-SP, revela sua trajetória inspiradora desde os 14 anos. Nascido em Sorocaba-SP, ele seguiu os passos de seu pai na atividade extrajudicial, enfrentando desafios em São Vicente-SP e retornando a Matão-SP, onde viveu momentos marcantes. Ele também oferece conselhos valiosos, destacando a importância da saúde mental e da serenidade nas decisões profissionais.
1. Você começou a trabalhar aos 14 anos no cartório de Registro de Imóveis e Anexos. Qual foi o momento em que percebeu que essa seria sua vocação definitiva?
R. Na verdade, acho que desde sempre imaginei que minha vocação seria esta. E isso vem do berço: meu pai, Jair Ponceano Nunes, também começou muito cedo na profissão, entregando intimações de protestos no 2º Registro de Imóveis e Anexos de Sorocaba-SP, minha cidade natal. Naquela época, o Registro de Imóveis de Sorocaba-SP ainda incluía o anexo de Protesto de Letras e Títulos... então acabou sendo algo natural para mim. Como comecei a trabalhar com ele em 1994 e entrei na Faculdade de Direito em 1999, no Centro Universitário de Araraquara-SP (UNIARA), a ideia de uma profissão jurídica logo se alinhou com a atividade extrajudicial dos Cartórios. Não vou negar que, durante a faculdade, sentia um desejo (que acho ser natural para todos os estudantes de Direito) de ser Juiz de Direito ou Promotor de Justiça. Mas logo que colei grau, no começo de 2004 (minha turma se formou em 2003), abriu um Concurso Público de Cartório no Estado do Rio Grande do Sul, bem como o 3º Concurso Público Para Outorga de Delegações de Notas e de Registros aqui do Estado de São Paulo. Aí, naturalmente, me inclinei para a atividade extrajudicial. Prestei o Concurso do Rio Grande do Sul, o 3º, o 4º, o 5º e o 7º do Estado de São Paulo, só não sendo aprovado no 4º. Então, olhando para minha vida, parece que a única coisa que realmente sei fazer é prestar serviço no extrajudicial.
2. Matão é uma cidade que marcou a sua vida profissional. Como foi retornar como titular para a cidade onde começou sua trajetória? O que essa experiência significou para você?
R. Vim para Matão-SP com 11 anos de idade, prestes a completar 12. Passei o final da minha infância e minha juventude aqui. Foi aqui que conheci minha esposa, aos 17 anos, que é minha Substituta no Cartório, Giovanna Maria Lopes Ponceano Nunes. Aqui vivi momentos bons e ruins, como todo ser humano experimenta em nossas trajetórias. Esta experiência foi muito gratificante! Estava muito desgastado com São Vicente-SP, onde havia assumido no 3º Concurso (em 2005), e tinha acabado de ser pai de minha primeira filha (Ariella, que nasceu em Santos-SP; a segunda, Mariana, nasceu em Araraquara-SP, cidade vizinha de Matão-SP). Voltar para casa foi providencial. Minha esposa voltou a conviver com seus pais (como ela é filha única, sentia muita falta deles) e eu com os meus... Graças a Deus estava em Matão-SP quando minha mãe adoeceu... pude ajudar a cuidar dela nos seus últimos dias de vida. Esta foi, sem dúvida, a experiência mais gratificante - cuidar da minha mãe, devolvendo, ainda que em uma parcela ínfima, tudo o que ela fez por mim ao longo de minha vida - e, ao mesmo tempo, a mais dolorosa - perder minha mãe depois de rápidos seis meses de diagnóstico de sua doença - de toda a minha vida.
3. Trabalhar na mesma cidade com seu pai como titular de cartórios diferentes deve ter sido único. Como era a dinâmica familiar nesse contexto profissional?
R. Eu aprendi tudo sobre minha profissão com meu pai. No meu início, em São Vicente-SP, ligava para ele todos os dias para tirar dúvidas. Se tem uma coisa que meu pai entende, é da rotina cartorária... ele me ensinou como administrar um cartório, lidar com os funcionários, fazer a escrituração de livros... foi um grande professor! Até hoje, conversamos sobre cartórios, só que agora, com um detalhe interessante nesta relação: às vezes, ele me liga para tirar dúvidas! O mundo dá voltas, não é?
4. Sua primeira experiência como tabelião foi em São Vicente. Quais foram os maiores desafios de assumir uma serventia em uma cidade nova, e o que essa vivência te ensinou?
R. Foi um aprendizado na "força do ódio"! O Cartório não tinha estrutura alguma... nem computadores tinha! Ainda que fosse um Cartório já instalado, na prática, foi como se eu tivesse instalado um Cartório novo, só que com um detalhe: vinha com todos os malfeitos anteriores! Foi horrível: muitas ações judiciais, problemas com o antigo interino, clientela baixa etc. Neste período, quem me ajudou demais foi minha esposa, que logo foi para São Vicente-SP colaborar comigo... passamos poucas e boas lá, até assaltados nós fomos, com um detalhe cruel: um funcionário estava envolvido no assalto. Mas, sem dúvida, esta experiência serviu para que eu crescesse como ser humano e passasse a entender melhor como é a dinâmica da vida.
5. O que mais te inspira na função de tabelião, e como você mantém a motivação em um trabalho que exige tanto rigor técnico e atenção aos detalhes?
R. É muito legal quando conseguimos "desenrolar" um caso aparentemente sem solução. Esta é a maior inspiração. Eu confiro todas as minutas antes de passá-las para o Livro, faço toda a parte administrativa do Cartório, redijo algumas escrituras... não vou negar que é desgastante e, às vezes, bate um desânimo..., mas este é o meu dom: nasci para trabalhar em Cartório. Para se ter uma ideia, nem Carteira de Trabalho eu tenho! Quando comecei a trabalhar com meu pai, fui registrado como estatutário... não creio que consiga fazer outra coisa...Sua família é referência no setor cartorial.
6. Como você enxerga o papel da tradição familiar na formação de profissionais de excelência nesse meio?
R. Na minha família, somos eu, meu pai e minha irmã mais nova, Beatriz Ponceano Nunes Buzatto. Inclusive, ela também trabalhou com meu pai, mas bem depois que eu já havia saído de lá! Da minha família originária, somente minha mãe, que foi professora, e minha irmã mais velha, que é médica em São José do Rio Preto-SP, não seguiram o caminho do extrajudicial.
7. Com tantos desafios enfrentados ao longo dos anos, qual foi o momento mais marcante ou decisivo na sua carreira?
R. Quando eu passei no 7º Concurso e pude escolher Matão-SP... foi uma virada de chave na minha carreira profissional. Desde então, abdiquei dos concursos... chega! Pretendo continuar aqui, já que hoje, o Cartório do qual sou Titular está com a minha "cara", do jeito que eu gosto!
8. Você acompanhou de perto a evolução do setor notarial e registral desde muito jovem. Quais são as mudanças mais significativas que você presenciou e como elas impactaram sua atuação?
R. Quando comecei, em 1994, tudo era feito à mão... recibos, apontamentos de títulos, instrumentos de protesto, índices... me lembro que até as Tabelas de Custas, que chegavam a se alterar semanalmente, quando da introdução da URV, nós datilografávamos... me lembro de ir com meu pai ao Cartório, aos sábados, para preparar a Tabela de Protestos para a semana seguinte! Era tudo muito rudimentar... os computadores deram um impulso enorme à atividade, agilizando demais os procedimentos. Agora então, com o E-NOTARIADO, com a possibilidade de lavrarmos atos notariais digitais, tudo ficou ainda mais facilitado. Acredito que a aplicação da IA nos serviços melhorará ainda mais a atividade, evitando tarefas burocráticas, repetitivas e a necessidade de refazermos os serviços em virtude de erros.
9. O tabelionato de notas e protesto tem um impacto significativo na segurança jurídica das relações sociais. Como você vê o papel dessa função na sociedade atual?
R. O setor de Notas talvez seja a especialidade que mais protege o cidadão entre todos os tipos de Cartório. Garantimos a segurança jurídica das relações privadas. Evitamos litígios, o que é essencial na sociedade. O setor de Protesto de Letras e Títulos ajuda a desafogar o Judiciário, reduzindo o número de execuções fiscais e controvérsias entre devedores e credores. É muito bom pensar que cada escritura que fazemos ou pagamento de títulos que recebemos desobstrui, um pouco mais, o nosso abarrotado Judiciário.
10. Se pudesse voltar no tempo e dar um conselho ao jovem escrevente de 1997, qual seria? E o que você diria ao tabelião que assumiu sua primeira serventia em 2005?
R. Seja menos ansioso; não se preocupe tanto com o futuro e aproveite mais a vida. O trabalho engrandece, sem dúvida! Mas sem saúde mental ou entusiasmo pelo que se faz, que vão desaparecendo quando a ansiedade generalizada toma conta da alma e do corpo, o trabalho acaba ficando pesado e cansativo. Isso, para o jovem de 1997, recém-nomeado Escrevente do Cartório de Registro de Imóveis e Anexos de Matão-SP. Para o Tabelião, que assumiu sua primeira Serventia em 2005, a minha dica é: tenha cuidado com as armadilhas que a vida lhe prepara. Tenha mais tranquilidade e certeza ao tomar decisões profissionais. Não se desespere ou desanime quando os infortúnios da profissão aparecerem, quase sempre, todos de uma única vez.
E para o Bate-bola, por favor, solicito que responda em apenas uma linha.
Nome Completo: Tarcisio Alves Ponceano Nunes
Profissão: 2º Tabelião de Notas e de Protesto de Letras e Títulos da Comarca de Matão-SP
Data de Nascimento: 28 de Abril de 1979
Time do Coração: Palmeiras
Hobby Preferido: Ficar Com a minha esposa (Giovanna) e minhas filhas (Ariella e Mariana)
Uma Música que Inspira: São duas: "Eu Sou o Pão da Vida", do Agnus Dei; e, "Nice Dream", do Radiohead.
Um Livro Inesquecível: "Lei dos Registros Públicos Comentada", de Walter Ceneviva
Uma Citação Que Te Marca: São duas também: "Tudo posso Naquele que me fortalece"; e, “Pois, Ele sabe o meu caminho; prova-me e sairei como ouro"
Uma Personalidade Que Você Admira: Jesus Cristo
Uma Saudade: Minha mãe, falecida no dia 29/03/2015; um pouco da minha alegria, morreu com ela...
Redes Sociais: Não tenho... só tenho o WhatsApp Business do Cartório... quando quero ver algo, espio o Instagram da minha esposa!

"Histrias do Ofcio" uma iniciativa em parceria entre o INR e a jornalista Samila Ariana Machado. A coluna traz entrevistas exclusivas com personalidades do setor notarial e registral do Brasil e do exterior, revelando no apenas suas trajetrias profissionais, mas tambm seu impacto social e sua essnciahumana. O projeto conta com o apoio de importantes nomes e instituies do segmento: ICNR — Instituto de Compliance Notarial e Registral, Blog do DG, GADEC Cartrios — Grupo de Alto Desempenho em Estudos de Cartrio, Pedro Rocha (Tabelio e Registrador Civil), Rogrio Silva (empresrio especializado em livros raros, clssicos e antigos), Jornal Dirio, Douglas Gavazzi — Advocacia e Consultoria Notarial e Registral, e Estudos Notariais.
Com um olhar sensvel e aprofundado, Histrias do Ofcio valoriza os profissionais que constroem, com tica e dedicao, o presente e o futuro do servio extrajudicial.








