Maria do Carmo de Rezende Campos Couto.
17/06/2025
Do berço ao balcão do cartório: Maria do Carmo Couto e os 136 anos do Registro de Imóveis de Atibaia. Com uma vida inteira dedicada ao serviço registral, ela honra o legado familiar e transforma a história da serventia em inovação e cidadania. Leia a entrevista completa e inspire-se com sua trajetória.
1. Você começou sua trajetória no registro de imóveis ainda jovem, em Betim-MG. O que mais te fascinou nesse universo e te levou a construir uma carreira tão sólida na área?
R. Sim, comecei muito jovem, em 1973 quando minha mãe, que era oficial de Registro de Imóveis em Conselheiro Lafaiete, foi transferida para o Registro de Imóveis de Betim. Na época eu tinha 17 anos e comecei a trabalhar com ela e com o Francisco Rezende, meu primo. Comecei lançando as averbações nos antigos livros de transcrições. Depois passei a fazer certidões, registros e após fui para análise de títulos. Sempre gostei de história e me fascinava ver os registros antigos que demonstravam a origem e desenvolvimento da região. Formei em direito em 1980, e naquela oportunidade já era a substituta da minha mãe. Sempre gostei de atender as pessoas e resolver os seus problemas; e, em especial entregar os registros tão sonhados da casa própria. Penso que o Registro de Imóveis tem entre suas características ser uma entidade que materializa o sonho das pessoas de ter a casa própria concretizando o direito constitucional de moradia.

2. Você atuou em várias localidades, de Betim a Assis e, atualmente, Atibaia. Como cada região influenciou sua visão sobre o papel do registro de imóveis na sociedade?
R. Cada região tem sua particularidade. Betim é uma cidade industrial. Assis é impulsionada pelo agronegócio. Já Atibaia é uma cidade multifacetária, pois a região atualmente tem um parque industrial significativo, mas também tem um grande apelo turístico, e ainda, sua proximidade com São Paulo tem como consequência propiciar a constante implementação de loteamentos fechados e condomínios com casas de lazer na região. O que aprendi com essa diversidade é que o Registro de Imóveis tem uma responsabilidade muito grande com todos os setores da sociedade. Cada setor influencia o outro social e economicamente e gera renda e emprego que levam à prosperidade. E o Registro de Imóveis está no meio deste círculo virtuoso gerando segurança jurídica para todos.

Copa de 2014 Prédio antigo do cartório em Atibaia/SP

Confraternização de Natal de 2014 Prédio novo do cartório em Atibaia/SP
3. A regularização fundiária é um tema central na sua atuação. Qual foi o caso ou projeto mais desafiador que você já enfrentou nessa área, e o que ele te ensinou?
R. O Registro de Imóveis de Atibaia concentra os registros de quatro municípios, e todos tem se dedicado ao tema da REURB. Aqui já foram regularizados em torno de 4000 imóveis, a grande maioria já titulados. O caso mais desafiador foi a primeira regularização de um condomínio de lotes, pois a matrícula possuía uns mil registros em 300 folhas. Além da regularização do parcelamento do solo foi também feita a atribuição das unidades com especialização de frações ideais de todos esses registros. Mas também atuamos muito na regularização por meio da usucapião extrajudicial. No relatório do Registro de Imóveis do Brasil, o Registro de Imóveis de Atibaia está em 6º lugar no país em volume de processos de usucapião extrajudicial, sendo que atualmente já contamos com 530 prenotações e 332 já foram registrados.

Celebração dos 130 anos do Registro de Imóveis de Atibaia/SP
4. Como membro de diversas comissões da ARISP e do IRIB, você tem participado ativamente na formulação de diretrizes e normatizações. Qual foi o maior impacto dessas comissões no avanço do setor?
R. Sim, já fui diretora, vice-presidente estadual e membro de diversas comissões e agora estou como vice-presidente nacional da prestigiosa entidade que é o IRIB. Também, fui Conselheira da ARISP e tive oportunidade de participar da alteração do estatuto que incluiu como associados todos os registradores do interior do Estado de São Paulo. Todas as nossas entidades, seja estadual ou nacional, estão empenhadas na modernização do setor e nas discussões que envolvem toda a normatização da atividade. Os avanços que obtivemos contaram ativamente com a participação de dedicados colegas empenhados na valorização da atividade.
5. Você foi autora do primeiro volume dos "Cadernos do IRIB", sobre Compra e Venda. Como surgiu a ideia de iniciar essa coleção, e qual foi a maior lição ao compartilhar esse conhecimento?
R. A ideia surgiu do Francisco Rezende, na época Presidente do IRIB, que me colocou como diretora deste projeto. Ele queria que houvesse uma cartilha simples e de fácil compreensão e didática sobre os temas mais recorrentes do Registro de Imóveis; e, que junto a esta cartilha, houvesse uma planilha para conferência de títulos. Fiz o primeiro caderno e após a sua aprovação, convidei colegas para participarem do projeto. Este projeto foi e ainda é muito exitoso, pois alguns cadernos já contam com várias edições.
6. O que mais te inspira na função de registradora de imóveis e como você mantém a motivação em uma carreira tão longa e tecnicamente exigente?
R. Minha inspiração é sempre a mesma: entregar o melhor trabalho possível à sociedade local. Minha motivação é mantida à medida em que vejo que a cada dia temos que melhorar ainda mais. Temos que nos manter atualizados e em permanente estudo.

7. Você participou de inúmeros congressos como palestrante e debatedora. Existe algum evento ou discussão que tenha marcado sua carreira de forma única?
R. Sim, já participei de inúmeros congressos. Até perdi a conta. Mas a primeira palestra a gente nunca esquece. Foi em 2001 no XXVII Encontro nacional do IRIB em Vitória/ES, no qual apresentei um trabalho sobre Loteamentos Populares e a Lei 9.785/99.

8. A tecnologia tem transformado o setor registral. Quais são as inovações mais promissoras que você acredita que impactarão o futuro dos cartórios de registro de imóveis?
R. Eu já passei por vários estágios. Comecei quando os registros ainda eram manuais, nos livrões de transcrições e inscrições. Depois veio a matrícula em ficha, a máquina de escrever elétrica, os computadores, os primeiros softwares, depois os softwares mais sofisticados que contemplavam todo o processo registral. Agora estamos na era do registro eletrônico e da inteligência artificial. As inovações têm ocorrido ultimamente em velocidade surpreendente. Sinceramente não sei onde vamos parar e como será o impacto de tanta inovação no futuro dos registros. Mas o que sinto é que nosso principal produto, que é a segurança jurídica, permanecerá sempre sendo essencial para a sociedade.
9. Se pudesse mudar algo na legislação ou nas práticas do Registro de Imóveis no Brasil, qual seria sua principal sugestão e por quê?
R. Eu implantaria de imediato a matrícula eletrônica. Não faz mais sentido ficar com todo o processo eletrônico e ainda ter que imprimir os atos em papel. Sem contar o extenso processo de tirar matrícula da gaveta, imprimir, assinar, digitalizar, e guardar novamente no arquivo. Sei que alguns defendem a segurança que o papel traz, pois, conforme já escutei de um amigo, se explodirem uma bomba eletromagnética todos os dados eletrônicos serão apagados. Não tenho conhecimentos técnicos para dizer se isso é verdade, mas penso que a tecnologia atual já deve ter solução para isso. Assim, uma inovação necessária é a matrícula eletrônica.
10. Depois de tantos anos de contribuição ao setor registral, como você gostaria que sua trajetória fosse lembrada por colegas, alunos e a comunidade jurídica?
R. Sempre que há novos concursos, entram na atividade colegas que possuem vasto conhecimento teórico e pouca prática. Estou sempre à disposição para ajudá-los. Atualmente temos vários grupos de WhatsApp que discutem temas recorrentes e desafios diários que aparecem aos quais procuro passar minha experiência. Acho que seria bom ser lembrada como uma colega dedicada à atividade, que colabora para dignificar sua função e tenta ajudar os demais sempre que é possível.

Nome Completo: Maria do Carmo de Rezende Campos Couto
Profissão: Registradora de Imóveis, Títulos e Documentos e Pessoa Jurídica
Data de Nascimento: 28 de Agosto de 1956
Time do Coração: Clube Atlético Mineiro
Hobby Preferido: Brincar com meus netos e montar a árvore genealógica da família.
Uma Música que Inspira: É preciso saber viver- Erasmo e Roberto Carlos
Um Livro Inesquecível: O primeiro que li: Minha Vida de Menina- Helena Morley
Uma Citação Que Te Marca: Viver é desenhar sem borracha - Millôr Fernandes
Uma Personalidade Que Você Admira: Jesus
Uma Saudade: Da minha mãe
Redes Sociais: Facebook (maria do carmo couto) e Instagram (mariadocarmo2172)

"Histrias do Ofcio" uma iniciativa em parceria entre o INR e a jornalista Samila Ariana Machado. A coluna traz entrevistas exclusivas com personalidades do setor notarial e registral do Brasil e do exterior, revelando no apenas suas trajetrias profissionais, mas tambm seu impacto social e sua essnciahumana. O projeto conta com o apoio de importantes nomes e instituies do segmento: ICNR — Instituto de Compliance Notarial e Registral, Blog do DG, GADEC Cartrios — Grupo de Alto Desempenho em Estudos de Cartrio, Pedro Rocha (Tabelio e Registrador Civil), Rogrio Silva (empresrio especializado em livros raros, clssicos e antigos), Jornal Dirio, Douglas Gavazzi — Advocacia e Consultoria Notarial e Registral, e Estudos Notariais.
Com um olhar sensvel e aprofundado, Histrias do Ofcio valoriza os profissionais que constroem, com tica e dedicao, o presente e o futuro do servio extrajudicial.








