Fernando Escrivani Stefaniu.

15/07/2025

Do Tribunal ao Tabelionato: A Trajetória Singular de um Homem Plural. Com uma trajetória que atravessa o Ministério Público, a magistratura federal e agora o extrajudicial, Fernando Stefaniu fala sobre coragem, legado e o valor das coisas simples.

 

1. Sua trajetória no mundo dos concursos é admirável. Sua carreira começou como servidor da Justiça Federal e percorreu diversos cargos, como promotor, juiz, desembargador convocado no TRF da 5ª Região e agora tabelião. O que despertou em você o desejo de ingressar nessa jornada?

R.         Obrigado. Na verdade, comecei muito cedo. Lá entre 2001 e 2002, quando ingressei no Ministério Público, meu primeiro cargo de escolaridade superior, concursos para a atividade extrajudicial não eram ainda frequentes em nível nacional e nem divulgados com amplitude. Ainda durante a faculdade, tive a oportunidade de ingressar por concurso na justiça federal, como técnico judiciário, e acabei integrando a assessoria de dois excelentes magistrados. Isso naturalmente exerceu uma influência decisiva para que eu almejasse a magistratura federal. E em 2005 obtive sucesso no concurso e por quase 18 anos fui muito feliz em minha função. Sempre haverá um lugar especial no meu coração para essa fase da minha vida, que me proporcionou sobretudo um grande crescimento pessoal. Sou muito grato a tudo que aprendi e às pessoas com quem tive oportunidade de conviver, nos mais diferentes aspectos da atividade. Mas, após tantos anos, houve um momento em que percebi que as perspectivas de futuro apontavam no sentido de que o ciclo já havia atingido o ápice. Por outro lado, sempre tive em mim um chamado a empreender, a inovar, utilizar novas tecnologias e soluções aplicadas à atividade jurídica (em sentido geral) que dificilmente poderiam ser colocadas em prática na carreira da magistratura, em razão de seu regime jurídico próprio. O extrajudicial passou a cada vez mais a atrair minha atenção justamente por isso: a possibilidade de prestar um serviço jurídico de alta relevância social e colocar essas ideias, tanto quanto possível, em prática. Foi um processo de amadurecimento e, nessa jornada, acabei estreitando contato com pessoas que já estavam na titularidade de delegações que muito me ajudaram a decidir por esse caminho. Por último, mas o mais importante: minha família sempre esteve ao meu lado nessa transição.

 

 

Fernando Stafaniu

Fonte da imagem:Memorial do TRF5 Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Disponível em: https://memorial.trf5.jus.br/concursos/juizes/18

 

2. Cornélio Procópio, sua cidade natal, tem influência na sua formação ou em valores que você carrega até hoje em sua vida profissional?

R.         Ainda que tenha deixado de morar no Paraná ainda criança, minhas origens e maior parte de meus familiares lá residem. Os exemplos, as lições de vida, iniciaram lá e se renovam a partir de lá. Um bônus que o extrajudicial me proporcionou, nesse sentido, foi o de estar a poucas horas de carro de Cornélio.

 

3. Ao assumir o 2º Cartório de Americana e quais foram os maiores desafios que encontrou?

R.        O 2º Cartório vinha de um considerável período de interinidade e pelas circunstâncias inerentes a essa condição havia muito a transformar, ainda que estivesse (como de fato estava) sendo bem gerido. Hoje, com pouco mais de um ano depois de ter assumido a titularidade, ainda que exista ainda uma longa jornada pela frente, eu e minha equipe mudamos para uma nova sede, com estrutura, conforto e equipamentos incomparáveis em relação ao quadro anterior, permitindo-nos estabelecer fluxos de atendimento e rotinas de trabalho alinhadas ao propósito de oferecer um serviço à altura do que a sociedade espera e merece. Como eu disse, não se trata de afirmar que todos os objetivos já foram atingidos. Bons ideais ou metas de excelência talvez valham tanto ou mais pela inspiração que irradiam do que propriamente sua consecução plena e absoluta, nem sempre factível. Mas uma transformação sensível, com muito esforço e colaboração de toda equipe, já foi atingida e hoje trilhamos, dia a dia, os passos necessários para que o que precisar ser modificado venha a ser efetivamente modificado e o que precisa ser aprimorado venha a ser aprimorado, incessantemente, pensando sempre nas responsabilidades e deveres que temos, por lei e por ética, perante o público em geral e nós mesmos. E assim estamos avançando - digo no plural, pois sem uma boa equipe é impossível - com a felicidade e a paz no coração de quem gosta do que faz e sabe a razão pela qual o faz.

 

 

Fernando Stafaniu

 

4. Como a experiência na magistratura influencia sua abordagem à gestão cartorial e à interação com os clientes?

R.         Nas duas Atividades, o elemento central são as pessoas. E as pessoas são guiadas em suas diversas interações, ao menos em parte, por um mesmo grupo de fatores. Seja em relação ao público externo, seja em relação à equipe, um dos pontos de maior relevância para o bom desempenho da função é estar atento às pessoas, suas necessidades, expectativas, motivações, frustrações e receios. Enfim, estar atento a esse conjunto intrincado de sentimentos que permeia a condição humana para tentar construir ambientes, técnicas de prevenção ou superação de conflitos e soluções capazes de dar respostas que demonstrem respeito, empatia e consideração, ainda que não seja possível atender determinada pretensão ou demanda. Na verdade, acredito que sobre isso exista um consenso: o dizer "não" exige ainda maior necessidade de se demonstrar esse respeito, essa empatia, essa consideração. E nesse contexto, certamente é de grande valia a experiência advinda de minha função anterior, como certamente é de grande valia toda e qualquer atividade anterior que agregue experiência de vida.

 

 

Fernando Stafaniu

Fonte da imagem:Aldaci de Souza/Portal Infonet. Disponível em: https://infonet.com.br/noticias/politica/subvencoes-relator-promete-ouvir-mais-de-100-pessoas/

 

5. O setor extrajudicial tem se modernizado rapidamente com o avanço da tecnologia. Quais inovações você acredita que terão maior impacto na atividade notarial e de protesto nos próximos anos?

R.           Vejo grandes desafios - e por isso mesmo grandes oportunidades para a atividade notarial e de protesto nos próximos anos. É necessário saber instrumentalizar, desde já, a tecnologia como uma ferramenta a serviço do aprimoramento de nossa atividade, tornando-a mais célere, acessível e assertiva. Ao mesmo tempo e com a mesma urgência, cabe-nos evidenciar que existe um elemento insubstituível em nossa atividade, que é a fé - pública de um profissional tecnicamente preparado, pessoalmente responsável pelos atos que pratica e que tem por dever praticá-los de forma a assegurar a sua segurança e legalidade. Ter ao alcance esse profissional, ser atendido por esse profissional - que utilizará a tecnologia como instrumento - e que irá assessorar imparcialmente as partes nos atos e negócios jurídicos de maior relevo da vida civil, é inestimável e assim precisa ser reconhecido. A ideia de que de somos "meros intermediários" e que assim "oneramos" a atividade econômica ou circulação de riquezas é falaciosa, sobretudo quando se propõe direta ou indiretamente substituir a atividade extrajudicial por ferramentas tecnológicas controladas por grandes corporações ou supostamente autossuficientes em termos de controle e validação. Sem prejuízo do quanto essas ferramentas possam realmente otimizar a prática dos mais diversos atos, só a participação do Tabelião e do Oficial de Registro pode agregar camada definitiva de segurança em favor do usuário, prevenindo riscos e potenciais conflitos, especialmente em um País como o Brasil.

 

6. Se pudesse resumir em uma frase o propósito do trabalho notarial e registral, qual seria?

R.         Resguardar a segurança jurídica da sociedade em suas relações não contenciosas de forma eficiente, com qualidade e presteza.

 

7. Qual foi o caso ou situação mais desafiadora que enfrentou como magistrado e que ainda ressoa em sua atuação atual?

R.         Foram muitos ao longo dos anos. Desde o primeiro Júri que presidi até minha última participação como convocado pelo e. TRF5. Mas provavelmente o que provoca as melhores lembranças e sensação de dever cumprido diz respeito a uma ação civil pública que buscava discutir e implementar, em âmbito nacional, medidas para proteger pessoas com alergias a determinados produtos (alimentos, cosméticos, medicamentos) existentes no mercado. O tema até então era pouco conhecido e debatido e uma parcela imensa da população estava exposta aos mais variados riscos pela ausência de providências a respeito.

 

 

Fernando Stafaniu

Fonte da imagem:AJN1 Agência Jornal de Notícias. Disponível em: https://ajn1.com.br/urbano/juiz-fernando-escrivani-stefaniu-sera-o-novo-diretor-do-foro-da-jfse/

 

8. Sua trajetória acadêmica inclui pós-graduações pela Escola Superior da Magistratura de Pernambuco e pela Universidade de Pisa, na Itália, além de um mestrado pela Universidade Federal Fluminense. O que te inspira a continuar buscando especializações e conhecimento, mesmo após tantos anos de atuação em diferentes áreas do Direito?

R.           Ainda que em muitos aspectos essa atividade acadêmica também implique uma dose de sofrimento e renúncias, procurar evoluir, procurar aprender mais sobre um tema que desperta o interesse, que estimula a capacidade de refletir sobre determinadas questões, é em boa medida um prazer, especialmente quando se tem oportunidade de travar contato e aprender com professores por quem se nutre respeito e admiração.

 

9. Quem é Fernando Escrivani Stefaniu além dos títulos e da trajetória profissional? Quais valores e experiências moldaram o magistrado e o ser humano por trás da toga e, agora, tabelião?

R.         Sobretudo, pai. Não há manual de instruções, nem fórmulas infalíveis e nem garantias de estar certo, mas meu maior propósito é o de ser um bom pai e padrasto; ser um bom marido, bom filho, bom irmão e bom amigo. Estar na companhia daqueles que amo, com eles dividir a mesa, compartilhar uma refeição, é minha maior felicidade e paz. O resto, é acessório.

 

10. Que conselho você daria aos jovens que desejam ingressar na carreira extrajudicial?

R.         Procurem conhecer, conhecer bem, a realidade da atividade. Para além do que se encontra com facilidade na mídia. A realidade, que tem inúmeros pontos positivos e também diversos desafios e dificuldades que precisam ser enfrentados com seriedade e dedicação. E lógico, estudem muito, estudem com sinceridade e com entusiasmo, independentemente do resultado.

 

Nome Completo: Fernando Escrivani Stefaniu

Profissão: Tabelião

Data de Nascimento: 10 de Abril

Time do Coração: Atlético Paranaense

Hobby Preferido: Fotografia

Uma Música que Inspira: The Long and Winding Road - Beatles

Um Livro Inesquecível: O Evangelho Segundo Jesus Cristo - Saramago

Uma Citação Que Te Marca: O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem - Guimarães Rosa

Uma Personalidade Que Você Admira: Ayrton Senna

Uma Saudade: Meus avós

 


jornalista Samila Ariana Machado

"Histrias do Ofcio" uma iniciativa em parceria entre o INR e a jornalista Samila Ariana Machado. A coluna traz entrevistas exclusivas com personalidades do setor notarial e registral do Brasil e do exterior, revelando no apenas suas trajetrias profissionais, mas tambm seu impacto social e sua essnciahumana. O projeto conta com o apoio de importantes nomes e instituies do segmento: ICNR — Instituto de Compliance Notarial e Registral, Blog do DG, GADEC Cartrios — Grupo de Alto Desempenho em Estudos de Cartrio, Pedro Rocha (Tabelio e Registrador Civil), Rogrio Silva (empresrio especializado em livros raros, clssicos e antigos), Jornal Dirio, Douglas Gavazzi — Advocacia e Consultoria Notarial e Registral, e Estudos Notariais.

Com um olhar sensvel e aprofundado, Histrias do Ofcio valoriza os profissionais que constroem, com tica e dedicao, o presente e o futuro do servio extrajudicial.

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