Em meio aos debates da COP30, cartórios apresentam práticas sustentáveis consolidadas – (ANOREG-MT).
24/11/2025
Em um momento em que o mundo volta os olhos para Belém, palco da COP30 e das discussões globais sobre o futuro do planeta, os cartórios brasileiros mostram que a sustentabilidade também faz parte da agenda do setor extrajudicial.
Um dos indicadores desse avanço é o levantamento Raio-X dos Cartórios, produzido pela Associação dos Notários e Registradores do Brasil (Anoreg/BR). A pesquisa, que ouviu participantes de todas as regiões do país, aponta que 47,94% dos cartórios já adotam práticas ambientais, seja na gestão de resíduos, na redução do uso de papel, no consumo consciente de energia ou em ações de engajamento social em torno do tema. A porcentagem indica que quase metade das serventias implementou ao menos uma política interna de sustentabilidade, um dado expressivo quando comparado ao perfil tradicionalmente administrativo do setor.
Esse esforço coletivo se dá por meio de programas institucionais. Entre os mais representativos está o Selo CO2Free – Neutralização de Carbono dos Cartórios Extrajudiciais do Brasil, criado pela Rede Ambiental e de Responsabilidade Social dos Notários e Registradores (Rares-NR), organização da sociedade civil vinculada à Anoreg/BR. A iniciativa propõe a medição das emissões individuais de cada serventia e a compensação climática por meio de projetos certificados de preservação ambiental.
Desde sua criação, o projeto vem despertando interesse crescente. Cartórios de todos os portes podem participar ao preencher um cadastro no site da Rares-NR, informando dados mensais de consumo e emissão. Essas informações são convertidas em equivalências de CO2 e vinculadas a metas de redução, seguindo padrões reconhecidos internacionalmente. As serventias que concluem o processo recebem certificação e autorização para utilizar o Selo CO2Free em seus materiais institucionais, um indicador de conformidade ambiental que se soma ao reconhecimento público das práticas sustentáveis.
Enquanto os debates globais concentram-se em compromissos de larga escala, os cartórios também apostam em ações de impacto imediato. Em 2025, durante o Mês do Meio Ambiente, a Rares-NR ampliou essa estratégia com o lançamento da Campanha Cartório Sustentável, iniciativa voltada à disseminação de práticas de baixo custo e alto alcance. A proposta incentiva a digitalização de processos, a eliminação de impressões desnecessárias, o uso de lâmpadas eficientes, a destinação correta de resíduos e a priorização de fornecedores que adotam compromissos ambientais.
O Mato Grosso está entre os estados que se destacam na agenda ambiental do setor extrajudicial. Segundo levantamento, 14 serventias mato-grossenses já aderiram ao programa da Rares-NR ou possuem o Selo CO2Free, certificação que reconhece a neutralização das emissões de carbono e o compromisso contínuo com práticas sustentáveis. Integram essa lista o Registro Civil das Pessoas Naturais e Tabelionato de Notas do Distrito de Primavera, o Tabelionato de Notas e RCPN de Santa Rita do Trivelato, o Cartório do 2º Ofício de Pontes e Lacerda, o 2º Serviço Notarial e Registral de Barra do Bugres, o 1º Ofício de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos de Nova Ubiratã, o 1º Registro de Imóveis e Títulos e Documentos da Comarca de Itaúba, o 2º Ofício de Poxoréu, o 5º Serviço Notarial e de Registro de Imóveis da 2ª Circunscrição Imobiliária de Cuiabá, o Registro Civil das Pessoas Naturais e Tabelionato de Notas do Distrito de Ouro Branco, da Comarca de Nova Canaã do Norte, o 2º Ofício de Nova Mutum, o 1º Ofício de Porto Esperidião, o Registro de Imóveis, Títulos e Documentos da Comarca de Itaúba, o Registro de Imóveis, Títulos e Documentos da Comarca de Peixoto de Azevedo e o 2º Ofício de Sorriso.
Em números, estima-se que o volume de papel consumido pelas serventias, quando convertido em equivalência de carbono, pode representar emissões anuais relevantes. Atos como registros, escrituras, autenticações e emissões de certidões, durante décadas, dependeram quase exclusivamente de impressões, arquivamentos físicos e armazenamento em grandes acervos. Esse cenário começou a mudar de forma consistente com a implementação de sistemas eletrônicos, que permitiram a migração progressiva dos procedimentos para o ambiente digital. O que antes exigia altos volumes de papel hoje podem ser resolvido pela internet, com segurança jurídica, rastreabilidade e redução direta de resíduos. A digitalização, além de ampliar o acesso dos cidadãos aos serviços extrajudiciais, contribui para diminuir a pressão sobre recursos naturais, tornando o atendimento mais ágil, sustentável e alinhado aos compromissos ambientais assumidos pelo país.
O envolvimento do setor extrajudicial também se expressa em ações sociais complementares, que mostram a dimensão ambiental e comunitária. A Rares-NR coordena, anualmente, campanhas como Páscoa Solidária, Doação de Livros, Campanha do Agasalho e ações de segurança alimentar em parceria com o programa Mesa Brasil. Embora distintas da pauta climática, essas iniciativas integram o conceito ampliado de sustentabilidade previsto na Agenda 2030 da ONU, que inclui redução das desigualdades, fortalecimento comunitário e responsabilidade institucional.
As serventias interessadas em participar das iniciativas podem acessar o portal da Rares-NR para obter informações sobre o Selo CO2Free, a Campanha Cartório Sustentável e outras ações. Em um contexto global de urgência climática e de reorganização das responsabilidades ambientais, a atuação dos cartórios brasileiros se apresenta como um exemplo de como políticas locais podem dialogar com metas internacionais e de como pequenos gestos cotidianos podem, somados, gerar impactos de escala nacional.
Fonte: https://www.anoregmt.org.br/